sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A Um Bom Amigo, Uma Homenagem II

O Despertar de Uma Estrela 
Parte II

"O que se perdeu, já se foi e não adianta tentar recuperar, rostinhos bonitos não vão lhe salvar e o tempo que já passou jamais voltará." Aquela frase abateu a pobre garota e lágrimas nasceram em seus olhos para percorrer o rosto de pele suave e macia. Não conseguiu conter o coração que pulsava ligeiro, quase como se estivesse no seu pescoço, pois podia sentir a sensação de ser sufocada de dentro para fora. As palavras foram como adagas que entraram em seu peito sem dó nem piedade, apenas a perfuraram friamente, mas fizeram questão de deixá-la viva para sentir a dor dos cortes. Os ferimentos não irão fechar tão facilmente e as cicatrizes vão permanecer em sua mente pelo resto da vida, apenas ficando mais secas e fazendo com que ela própria fique seca e sem vida.
A mulher nada mais era do que uma velha de cabelos brancos e poucos dentes na boca, mas a maneira com que se arquejou e falou tais palavras mexeu de maneira inexplicável com a cabeça da garota que agora andava agitada pelas ruas cheias de gente. Em sua mente o som dos sinos da igreja ressoava e ela sabia que apenas devia correr, correr para o mais longe possível da igreja, mas ao olhar para trás não conseguia ver os sinos que perturbavam seu cérebro. Havia algo de errado e ela não sabia o que era; todo aquele mundo estava errado e podia sentir que não pertencia àquilo ali. De repente ao passar pela multidão uma imensidão branca se abriu em sua frente e o chão terminava onde a película branca começava; até mesmo o céu fora tomado pelo branco mais profundo que já vira. Teve de dar dois passos para trás, não podia crer na cena que seus olhos estavam testemunhando, até mesmo os prédios perdiam a forma e se misturavam com o "nada" em sua frente, era como se tudo se desfizesse ao chegar perto daquilo. Sentiu medo, e não pode correr, a multidão em suas costas estava toda parada e sem cor. Suas pernas se paralisaram com o desespero do momento, e só então ela percebeu que os sinos já haviam parado há algum tempo, mas agora um estranho chiado começou a soar pela rua. O espaço a sua frente foi distorcido pelo som que a cada segundo se tornava mais alto e mais rápido, até que o espaço branco foi sendo quebrado em pequenas partes como se fosse vidro estilhaçado e lá de dentro surgiu uma cruz feita de carvalho antigo e pesado que flutuava no meio da imensidão. Ao seu lado pessoas sem vida e sem rosto, apenas bonecos hipnotizados pela melodia que acompanhava a cruz gigante, um canto antigo que lhe era de alguma maneira familiar. Uma parte dela se sentia bem ouvindo aquela música, mas outra se revoltava e remexia dentro dela como se quiser sair e para com a música que a agitava. A cruz flutuava em sua direção e o som aumentava cada vez mais, a sensação de ser sufocada novamente tomou conta dela, o cantigo tentava dominar-la e fazer dela mais um ser sem vontade própria como todos aqueles que a rodeavam. Não podia se deixar controlar pelas lindas vozes que vinham do carvalho, e então decidiu correr, mas ao olhar para trás os seres sem vida estenderam as mãos para segurar-la impedindo-a de fugir. O desespero tomou conta de seu corpo e sua própria voz ecoou em sua mente "Corra!", sem hesitar seu corpo desviou como se fosse em câmera lenta das mãos que tentaram agarrá-la, e pelo meio da multidão tentou fugir. Tanto a suas costas dela e em sua frente uma multidão interminável se posicionava para dificultar seu caminho; ao fundo a cruz avançava em sua direção.
Ela correu por entre mãos e braços descoloridos e desprovidos de vida, não sabia bem ao certo como, mas ia avançando em sua fuga. Entretanto ao olhar para trás seu joelho direito bateu na parte de alguém e ela caiu de encontro ao chão. Os membros da multidão agarram seus pés e braços e a estenderam para o alto para que a cruz a alcançasse. Ela tentou se soltar, mas a força daqueles braços era inacreditável e mesmo que ela se debatesse nenhum membro se soltava, até que parou de tentar e deixou com que as lágrimas escorressem pelo seu rosto. Sabia que não podia desistir, algo estava a sua espera e ela não podia falhar! Levantou a cabeça para encarar a enorme cruz que pairava a sua frente, e nesse momento seu escapulário caiu para fora de sua blusa. Sem saber porque nem como, três palavras apareceram em sua mente e ela imediatamente as gritou para os ares: "MAGNUM CRUCIS: ELEUTHERIA!". Seus olhos castanhos transformaram-se em luzes azuis e uma forte luz branca saiu do escapulário libertando-a daquelas mãos e parando o canto da cruz.
A garota acordou assustada e ofegante com o grito que ouvira, ela sentou na cama assustada e quando ia procurar por seus país percebeu que a noite estava quieta como sempre. O grito que ouvira talvez tivesse sido apenas em seu sonho, apenas sua própria voz que no susto a tivera acordado. Entretanto aquele nome ressoava em sua mente: Eliot...