Estranha Lucidez
Ligeiramente inquieta e sorrateiramente discreta, a sombra vai caminhando passa-a-passo por aquele extenso corredor escuro, iluminado apenas pela nobre luz da lua. Vê-se nas paredes as imagens da vida, todas passando em um ritmo desacelerado e ainda assim todas ao mesmo tempo. Como um túnel de lembranças, tudo aquilo é relembrado e visto pelos olhos inundados por lagrimas doces de emoção. É prazeroso poder rever tudo isso que passou assim de uma vez só, sem esforço nenhum para que a mente se desdobre e saiba todos os pequenos detalhes que passaram despercebidos por nós quando vivemos aquilo. Mas nesse momento tudo está explicito naquelas paredes escurecidas pela noite e iluminadas pelo luar. O momento é de sumo silencio, já que as memórias não possuem som algum, e a serenidade da noite paira no ar, nem os ventos tem coragem de interromper tal instante. A mente se distorce em sentimentos e a razão se perde no meio do turbilhão de emoções, fazendo com que a consciência se confunda com o inconsciente e que assim nós finalmente possamos despertar para a realidade. Intermitentes sinais demonstraram a magoa que a alma sentira com o passar dos anos sob a tutela de um ser que não é, e com isso aparecem as cicatrizes deixadas pelo tempo. Numa mistura de tudo o que aqueles olhos já viram a noite vai ficando longa e aquela pessoa continua parada ali, no meio do corredor, como se arressem tivesse adentrado no prédio. Um som cruza toda a extensão do corredor e surpreende os ouvidos da garota que se depara com o medo que lhe bate no peito, ao perceber que não está sozinha. E mesmo com isso, seu estado de fascinação não muda e sua mente continua em transe devido as suas memórias que ainda ilustram as paredes. Ela somente ouve os passos de alguém se aproximando cada vez mais do lugar onde ela esta os vidros da janela a revelam sob a luz da lua e também fazem com que ela fique totalmente imóvel. É quando uma voz diz “Acalme-se garota. Compartilho contigo dessa sensação de que a mente transpõe o corpo. Minhas lembranças também estão à mostra nestas paredes.” E ao termino dessa frase, a menina consegue enxergar que as memórias dela se misturam com as da pessoa que se aproxima e lentamente vão se unificando...
Sem entender nada, ela subitamente acorda sem nem ao menos conseguir ver o rosto da pessoa com que ela falara em seu sonho. Irritada, soca a cama e se revira para dormir, mas a curiosidade a tira completamente o sono, assim se vê obrigada a levantar. Aquelas imagens não lhe saem da cabeça, tudo parecia tão real... Até as sensações que ela tivera os pensamentos, até as memórias que não lembrava mais estavam lá todas descritas em imagens espalhadas por aquele jamais visto corredor. Tudo muito estranho e intrigante; queria ela dormir de novo para poder rever tudo mais uma vez e tentar ir mais além, mas mesmo quando voltar da cozinha com seu copo d'água e tentar mais uma vez dormir, ela sabe que não irá voltar para aquele lugar... Antes de voltar para a cama, olha para a janela de vidro e vê a lua com o mesmo brilho que estava em seu sonho, então apenas se deita na cama e dorme com a curiosidade para saber o que iria lhe acontecer, ou melhor, o que vai acontecer...
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