segunda-feira, 13 de junho de 2011

On the Prowl

Necromancer

Na penumbra da noite ele se esconde esgueirando-se por entre os becos mais escuros e tenebrosos. Sorrateiramente como uma cobra, segue avançando pelas ruas, escondendo-se da luz de cada poste. Apenas a cor da lua em seus olhos é o que lhe acalma, e das estrelas tira apenas a energia para suas aventuras. Toda a noite quando o véu negro dos céus recai sobre sua cabeça, é que ele acorda para viver. Viver algo que já não é mais sua vida, rever tudo o que já não faz parte dele há muito tempo, mas pulsa intensamente como se estivesse vivo. Maldita é essa flor negra que insiste em brotar em seu peito cada vez que os ventos mudam e trazem consigo o cheiro denso da noite. Algo forte que entra pelo nariz e penetra-lhe as entranhas como lâminas doces e suaves, que o fazem reviver tudo o que está morto. E então ali mesmo, no meio da cidadela, nascem mais uma vez aqueles que já se foram. As pétalas da rosa negra caem uma à uma no chão e de cada uma delas uma vida que reaparece para o mundo ver. Uma horda de fantasmas sombrios e gélidos que o acompanham onde quer que vá até o sol nascer. As vozes que só ele pode ouvir, os gritos que só ele pode escutar, as imagens que só ele revê, as lembranças que revive, e o sutil cantigo que os ventos sussurram em seus ouvidos. Tudo isso, tudo junto fazendo-o delirar pela madrugada à dentro.
Dos mortos nasce a mágica da eternidade, algo que jamais poderá morrer, pois já não existe mais. O poder em sua forma mais pura, transformado na mais tênue treva. Em seus braços mais um erro, um grito de estupidez noturna, um crime contra o que um dia foi seu caráter. Nua e crua, adormecida em seus braços, sendo banhada pela luz trêmula de uma lua artificial. Indefesa e protegida por mãos manchadas de sangue invisível, garras brancas cheias de ódio e sedentas por uma justiça que não se cega. Jazia ali a tal criança de cabelos longos que fora revivida de uma rara pétala branca. Ele ficou bestificado com a visão que tivera quando os primeiros raios de sol iluminaram o horizonte, e lágrimas negras desceram dos olhos atingindo o delicado corpo em seus braços. O Sol reluziu forte e ofuscou tudo o que ele ainda podia enxergar fazendo com que viesse a morrer tudo o que tivera voltado à vida. Mais uma vez as pétalas negras secaram e se desfizeram em pó, embora uma, e apenas uma, tenha sobrevivido ao amanhecer, a bela pétala branca, que agora dormia em suas mãos manchadas de sangue escarlate.
Estava sem ninguém mais uma vez, e nem mesmo a companhia dos mortos lhe era suficiente. Embebedou-se de loucura e deixou que o mundo morresse à míngua, pois quando estivesse morto, ele poderia revivê-lo em sua insanidade. A final, ele é o necromancer do seu próprio eu.

Um comentário:

Anônimo disse...

especialmente ruim esse