O Despertar de Uma Estrela
Parte 1
Era uma noite como outra qualquer, o céu, as estrelas, a lua e o vento do inverno. Tudo como sempre foi, tudo como sempre esteve. Ou pelo menos era assim que ele lembrava que era: tudo pacato, tudo sempre igual e as mesmas pessoas que por vezes se alternavam, trocando seus rostos e gostos, mas no fundo todas elas possuíam a mesma essência.
Pela janela de seu quarto entrava a luz do luar que criava desenhos abstratos nas paredes brancas e no teto. O movimento das árvores dava vida a suas sombras e o ritmo lento do assovio do vento fazia com que a cena tivesse até trilha sonora. Já passava longe das vinte e três horas e amanhã ele teria que ir até a igreja, a final os últimos dias tinham lhe tirado toda a vitalidade e isso só poderia recuperar em pleno silêncio, orando para seu Senhor. Ainda mais que tivera digo a ela que iria encontrá-la para que saíssem depois, ou seja, teria mesmo que acordar cedo no sábado. Entretanto o medo penetrava-lhe o esqueleto ao lembrar do sonho que acabara de ter. Ele segurava uma espada grande e pesada com adornos prateados e pequenos cristais azul turquesa, o sangue escorria pela lâmina em um vermelho escarlate que exalava um odor forte de ferro. Aquele não era ele, não podia ser! Jamais iria brandir uma espada contra alguém! Quem dirá ferir alguém para sangrar tanto! Ao seu redor a escuridão o dominava e lentamente seus olhos começavam a enxergar o lugar onde estava. Embora as lembranças do sonho fossem embaçadas e difíceis de recordar, a sensação de aflição agora permeava no peito tal como no sonho. Seus olhos se voltavam para o teto do lugar e as pinturas dos anjos lutando contra os demônios do Inferno pulavam para cima dele como se estivessem vivas de tão amedrontadoras. Seu corpo tremia e suava frio com o desespero de não entender nada. Ele fechou os olhos para tentar lembrar-se mais daquele pesadelo e sem querer acabou por adormecer por alguns segundos... Agora estava dentro de seu sonho, vivenciava-o mais uma vez, embora pensasse que eram apenas lembranças. Dessa vez reconheceu os bancos da Igreja; alguns estavam estilhaçados, outros quebrados e jogados para os cantos do salão como se tivessem sido arremeçados por algo ou alguém muito forte. Mas os que lhe chamavam a atenção eram os mais próximos dele, pois esses estavam cobertos de sangue e o cheiro de ferro ardia forte em seu nariz. Ao olhar para o chão ao lado do banco seus olhos esbranquiçaram, a espada bateu forte no chão e o som do metal cortou o silêncio como uma foice rasga o ar. Não podia acreditar, não podia continuar olhando para aquilo, ele não podia, não! Simplesmente NÃO!
O garoto acorda com um grito que ecoou na noite e tocou seus ouvidos com a clareza de como tivesse sido proferido ao seu lado: Elioooooot!! Em algum lugar essa voz feminina chamava por ele...
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