segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Supernovas Austrais

Janela do Passado

Daquelas noites mal consigo me lembrar, quando o vento soprava lento lá fora e eu ficava sentado na janela a contemplar o tempo ir e vir. Passavam por mim anos e anos de vidas que não eram minhas, e diversas lembranças de tempos que não recordo de viver. Meu olhar buscava o longe, o inóspito lugar onde deveria ser meu real lar. Enquanto a mente me trazia toda a experiência de tempos que já haviam passado há muito tempo atrás, apenas para que eu pudesse aprender sem errar novamente.
E assim passaram-se anos e anos dentro de mim, sem que eu pudesse perceber. A memória daqueles dias é conturbada e sempre penso que aconteceram no ano passado, no mês passado, na semana passada... Faz tanto tempo, mas faz tão pouco. Sinto que se olhar para trás encontrarei toda aquela vida ali, me esperando como o de costume; todos aqueles sonhos e olhares, os corações abertos para amizade que amadurecia em nós, tudo aquilo que me foi tirado pelo tempo. Nunca quis crescer, pois no fundo eu sabia, tinha certeza de que um dia tudo isso que era bom, seria deixado de lado pelos caminhos da vida e com isso eu perderia parte de mim. Nós morremos dia após dia... Embora eu sempre tente ressuscitar o meu eu que já perece no passado de ontem. Ontem 1996, ontem 2000, ontem 2004, 2005... Ontem 2006, 2007 e 2008. Pois ainda estamos em 2009 e ano que vem teremos completado a primeira década dos anos 2000. Vejo que amanhã estarei de barbas brancas a contemplar o mesmo céu de décadas atrás, mas meu pensamento ainda estará voltado ao passado que se torna presente dia a dia. Meu eu jamais aceitará que o tempo passa, e passa rápido, pois é de meu ser crer que nunca serei "grande" o suficiente para andar sozinho. Não consigo matar as memórias que pipocam na minha mente, assim como não posso conter as lágrimas que me vem aos olhos ao lembrar de certos momentos da vida. O tempo é cruel, e por mais lento que alguns dias possam parecer ser, nossos anos serão sempre resumidos à poucos momentos, poucos mais eternos que marcarão nossa passagem pela Terra. E se assim for construirei algo que nem o tempo poderá destruir, uma estrutura tão forte que as rajadas de vento não poderão derrubar, e lá no topo estará o celebre monumento à vida eterna que ali jaz.
Ainda vou lembrar de tudo aquilo que quis esquecer, de toda a vida que joguei fora em cada esquina que passei, por cada rua que andei. E em cada lágrima que se foi com o vento haverá uma memória, um fragmento meu. Quando para aquela velha janela eu retornar, tenho a certeza de que se olhar para trás, verei todos eles novamente, assim como os conheci com sorrisos estampados no rosto e prontos para enfrentar qualquer coisa. Daí então poderei me juntar à eles para lá do aqui e agora, onde o vento sopra sem soprar e minha mente poderá enfim descansar...

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