quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Das Noites que Não Dormi

The Moon Strike I

"O Ceifador


Das luzes da noite surge um espectro negro que sintula no meio da escuridão. Enquanto a música toca, a nobre alma clama por sussego em meio a tanta vida. Aquela mão negra se move por entre a multidão procurando um lugar no qual possa repousar. Afinal essa é a função do ceifador, garantir que as almas possam enfim descansar. Pelas ruas desertas da madrugada corre a escuridão, frenetica com os gritos que só ela consegue ouvir no sim do no silêncio."

Das frases, da loucura, da mente que começa a se perder no mundo prestes a cair no absimo da insanidade. De repente surge nesse meio toda, nessa confusão maluca que engloba tudo e à todos ao mesmo tempo, uma idéia como um relampago no escuro céu da tempestade. Cruza a mente de ponta à ponta e faz com que todas as atenções se virem à ela. Assim nasceu o pequeno texto acima. Um flash negro de sinceridade, um grito abafado à força pelas mãos da sanidade que não pode deixar com que isso saísse pela boca. O corpo foi controlado pelas correntes que impedem que o verdadeiro eu se liberte e revele-se ao mundo e todo esse esforço para conter o incontrolável se mostra visivel no dia que veio depois, quando o corpo e alma estavam cansados demais para que pudessem agir em sincronia. Entregaram-se ao léu, ao bel prazer do destino e jogaram-se aos ventos que banhavam tudo que ali existia. De algum modo, tudo continuou como estava mesmo que algo tivesse começado a girar. Talvez uma coisa nova, ou algo que já ali estava, mas nunca antes tivera sido visto. Sei que... Nada mais sei, de nada mais entendo. A vertigem abatia os olhos enquanto escrevia as pequenas frases e ao mesmo tempo sentia que a máquina toda recomeçava seu ciclo. O passado me veio a mente e a raiva tomou conta de tudo, se pudesse rugiria alto ali mesmo, sem vergonha alguma e atacaria a presa sem piedade. Entretanto as correntes ainda seguravam o espiríto inquieto e impediam-me de qualquer ato. Era a vitória da razão. Afinal de contas, nunca passei das palavras, do desenho de letras esboçadas em um livro qualquer e talvez realmente não mereça nada mais do que reconhecimento de um passado longuiquo que jamais voltará.
Ainda assim, sei que essas palavras tem o poder de mudar, como fizeram comigo um dia, algumas palavras que li e ouvi, nesse dia me tornei escravo da escrita e não pude mais fugir ou até fingir que não tenho a paixão por escrever. A reflexão pura me revelou as verdades do mundo e pude finalmente entender a lingua que fala meu coração, mesmo que não concordasse com nada do que ele falava.
Foi assim que tudo aconteceu, tão rápido que o tempo nem se deu conta, tão rápido que a música ainda tocava, tão rápido que não tive nem tempo de sequer chorar, tão rápido que não pude me perder. E por fim senti a alma correr a cidade toda na alegria da ventania e no ritmo das luzes para enfim repousar no calor seco da lua.

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