quarta-feira, 16 de março de 2011

Capital de Pétalas

A Lótus da Loucura

A Vida em Bruxelas

Nos corredores ecoam os sons da infância, e as imagens de lembranças duradouras passeiam pelas paredes. O céu negro lá fora dispensa as nuvens e impõe-se como um imperador diante de mim. Embora a noite calma não consiga me amedrontar, o que posso ali entre daquele labirinto de emoções encontrar, é o que de fato me assusta. Minha mente vai - e já foi - a mil lugares e de cada um deles voltei com uma história diferente, pensamentos diferentes e sempre, sempre, vi e conheci pessoas diferentes. Cada um com uma história oriunda de um lugar distinto e longínquo, que minha imaginação por vezes não era nem capaz de recriar. Tantas palavras já ouvi à beira da lareira, à margem dos rios e vento o nascer do sol, que minha memórias embaralham-se como cartas de naipes iguais. As vezes tenho a sensação de que tudo não se passa de uma mera ilusão, que o tempo não existe de fato e que algum dia irei acordar da realidade.
Em um desses lugares que uma vez visitei, encontrei um viajante de meia idade que procurava o lugar que tivera visto em seus sonhos. Conversamos por horas aos pés da lareira que aquecia-nos naquele rigoroso inverno, e ali pude perceber a magia que trazemos no peito e escondemos do mundo. As horas passaram e o homem aos poucos ia trocando histórias e gargalhadas comigo, como se fôssemos velhos amigos a nos reencontrar naquela antiga pensão. Ele me dissera que vinha de Bruxelas, uma cidade linda e gélida, onde a elegância reinava e a neve caia lentamente. Contou-me que lá era um lugar agradável de se viver, mas que não podia-se ficar muito lá, pois o tempo passava lento demais para quem, como nós, buscava algo maior do que sossego em sua vida. Por vezes tinha sido difícil de se comunicar, pessoas de lugares distintos iam até Bruxelas e as línguas se confundiam nos ventos da cidade. Então por vezes, ele ficara sem saber em quem confiar, ou para onde ir...
Foi vendo a imagem daquela noite estampada na parede que pude perceber que no fundo do meu peito, eu estava enfim em Bruxelas. Esse ínfimo labirinto que se apresentava à minha frente nada mais era do que minha própria capital. Onde não consigo entender o que é que ecoá pelos corredores, nem as razões nas quais tudo isso se reflete nas paredes desse labirinto de emoções e memórias. Minha própria Bruxelas.

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