segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Infernos Cósmicos

As Muralhas do Outro Mundo


Meus pés já tocaram o solo árido do inferno, cai naquele lugar e de lá voltei mais forte. Conheci a mais profunda escuridão, bebi da água vermelha dos rios do além-mundo, fiz lá um pouco de tudo e me revoltei! A cada dia que passava aquelas chamas negras dançavam em meu corpo que se contorcia em dores; a dor vinha de dentro para fora e fazia com que o peito abrisse em lágrimas quentes. De dentro de mim mesmo podia-se ver que algo incandescente vivia e morria ali a cada segundo, e sangrava um liquido denso e escuro que anos depois fui descobrir que era a mais pura treva. Sucumbi dentre as rochas frias procurando encontrar alguma razão que ocupasse aquela lacuna na qual ela deixara, mas encontrei apenas poeira cósmica de páginas apagadas da memória. O ferimento de espada que cruzou meu ser, pulsava tão forte, tão vivido, tão recente que não parecia ter sido feito pelas mãos de uma mulher. Aquilo ainda sangrava lentamente e aos poucos a bela cicatriz ia se formando conforme passava o tempo ali no inferno. Afundei-me na lava da loucura procurando pela minha sanidade que há muito tivera perdido, ardia-me o rosto, o corpo e até mesmo a alma, entretanto sabia que no fundo daquele poço fervente estaria a chave que me libertaria do inferno.
Durante todos aqueles anos que vivi lá, não parei de pensar um dia sequer, assim a mente mantinha-se ocupada em viver mesmo que o corpo estivesse parado ou sendo punido por erros que nem meus eram, mas não me importava mais. Tudo que uma vez foi minha carne, eu sei, não me pertencia mais, pois nunca eu de carne fui. Então pra que preocupar-me com o estado desse corpo se a mente se perdia em um distante oceano lá nos confins do inferno? Quando finalmente encontrei as respostas para as questões que me aflingiam, pude eu então renascer para o mundo material! Não sabia, não tinha percebido e nem envelhecido como tal, mas os anos que vivi no submundo equivaliam à apenas um mero ano. Consegui assim evoluir a mente para um estado que nunca antes tivera visto e aquela pessoa de martir passou a admirável e uma questão de eras vividas por um viajante astral. Naquele tempo todo que lá vivi, conheci muita gente e muitos lugares, fui até o mais distante ponto do mundo, onde as águas são calmas e quentes, mas também fui até o mais alto pico que existe onde minha alma se transformou em gelo e por detalhe não esqueci-me de quem eu era. Viagens infinitas pelo universo iluminado e pelos mundos virgens do espaço, entretanto sempre carregava aquela chama negra que matava e renascia em meu eu aquele momento em que o peito me cortaram... Aprendi muito, vivi muito mesmo sem viver nada.
Renasci, voltei das cinzas do inferno para um mundo no qual eu não sabia que havia então mudado, me perdi em sua beleza e nesse sonho louco adormeci durante dois outros anos... Hoje enfim volto para o que restou de mim aqui nesse mundo no qual jugam ser o real. Usarei tudo o que um vi ou vivi para conseguir ir mais além e encontrar a pessoa na qual eu perdi há séculos atrás... Ainda ei de encontrar, nem que pelos infernos mais uma vez eu tenha de passar!

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