domingo, 14 de agosto de 2011

Histórias Noturnas

Emissário do Destino
Prólogo Negro

O olhar profundo era direcionado ao céu na busca de algo que não estava lá, mas parecia ser o melhor lugar para se procurar. Além do mais a noite convidava para ser apreciada, com as estrelas tingindo o tecido azul escuro do céu com um branco cintilante e tênue. A calmaria do momento não expressava o que se passava ali bem debaixo do universo, pois era visível que as próximas palavras daquele homem iriam mudar o futuro de muitos. As vestimentas pretas lhe caiam bem e ajudavam à dar destaque ao profundo verde dos seus olhos. Olhos esses que penetravam na pele de quem os olhasse, olhos fortes e frios como as lâminas que os cavaleiros ao seu redor portavam. Entretanto seus pensamentos estavam muito além daquele mundo térreo, em um lugar no qual somente alguns podiam pisar, uma dimensão diferente que ligava tudo o que se conhecia mesmo que não se pudesse nela tocar. Estava para lá do aqui e agora, em algum lugar do universo procurando as respostas que ele sabia não existir. "Sabia que mesmo quando uma estrela se extingue, seu brilho permeia o universo para somente depois de muito tempo sumir por completo?". Palavras jogadas aos ventos para que ninguém escutasse, mas eram a única coisa que sua mente perturbada conseguira bolar. "Mas nosso mundo limita-se ao aqui e agora...", retrucou uma voz áspera que fez com que a atenção do homem se voltasse à ele. "Você próprio limita seu mundo, pois nenhum desses limites que diz existir, é natural.". O silêncio invadira tudo novamente e ao longe ouvia-se as corujas cantarolarem melodias noturnas. Mas o certo é que haviam coisas que deviam ser feitas por ele e mais ninguém.
Os ventos da madrugada sopravam suaves e pesados fazendo com que a chama das tochas tremulasse no ar, criando sombras gigantes de homens pequenos. Era o Emissário da Escuridão que visitara o velho vilarejo àquela noite, e não havia nada que pudesse pará-lo, não importava o tamanho das lâminas ou o fio que elas possuíssem. Porque ele era o Protegido do Infinito e nada que fosse material poderia atingi-lo. E foi dando um passo para frente que ele deferiu as palavras que mudariam a vida de todos ali:
"A mente é o que corrói e alma é o que faz com que tudo se mantenha no lugar. Nessas lutas todas, por alguma razão que não sei dizer qual é, minha sanidade se manteve no lugar embora não intacta, pois seria pedir demais de mim mesmo... Encontrei nos céus meus motivos para continuar caminhando e a cada destino que me apresentava tanto me fiz odiar como amar, embora que a cada despedida eu sentisse que ia perdendo parte de mim e cada vez mais o meu calor interno ia sendo roubado de mim pelos ventos que me guiavam. Contudo minha alma criou uma armadura de gelo quase que impenetrável onde nada iria conseguir tocá-la novamente, e assim fiquei sem saber se vivia ou apenas existia nesse mundo tão incrédulo. Vaguei por muitos lugares e até a honra que me restava, eu perdi em meio à multidão das cidadelas que pereceram perdidas nas areias da minha memória. E hoje o que me resta é um pedaço de alma que vive em mim, apenas tentando fazer com que eu mantenha minha serenidade com o universo ao redor e não perca o pouco de sanidade que ainda me resta. Então quero apenas que me recebam nessa vila, para que possa descansar meu corpo dessa busca infinita pelas partes que perdi pelo mundo..."

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