quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Descendente da Chuva

Aguarda o retorno quietamente em seu canto escuro como se não tivesse importância nenhuma no mundo, apenas esperando que o momento certo chegue e tudo venha a desabar nos seus braços. Sabe que vai ouvir aqueles berros ensurdecedores e milhares de lágrimas irão escorrer nos rostos dos mais desesperados pela sua ajuda, mas ao ter tanta atenção a irritação lhe toma conta e tudo vai literalmente por água abaixo. Depois de esperar tanto tempo para poder sorrir é recebida com ignorância e críticas não fundamentadas que chegam a arrepiar os mais sãos. Bela é a arte daquele que permanece calmo até nos momentos mais inquietos e com a racionalidade rara que nos é apresentada hoje, ele simplesmente estende a mão para que ela possa ver que alguém em meio aquela imensa multidão tem respeito e consideração por ela.
Tudo por um momento se acalma e a narração já não mais tem sentido, pois tudo que ali se passa é algo que vai além do que meras palavras camufladas na natureza podem descrever. Um tanto estranho, entretanto as analogias dão sempre tão certo que chega a ser espantoso para quem as reconhece. Os assuntos os mesmos, as pessoas outras. E tudo que um dia teve um fluxo coerente agora se perdeu e foi embora com a chuva, até mesmo aquilo que achávamos que não iria mais voltar está aqui. Bastou que os ventos se revoltassem e buscassem a tempestade de areia para cá, pintando tudo de vermelho e fazendo com que engolíamos secas todas as palavras que falamos em vão. O inferno vermelho está ai e é a realidade de hoje em dia, a revolução já havia começado; só você não percebeu e agora consegue sentir na pele tudo aquilo que já tinham lhe falado há tempos atrás. E novamente seu melhor amigo dá as caras por aqui para lhe dizer que voltou de viagem, mas que nunca deixou de te acompanhar, afinal ele é o senhor de tudo e é aquele que diz quando as feridas irão cicatrizar e o sol nascer novamente dentro de você.
Voltando ao inicio e já indo para o final, aquela jovem que esperava tanto, agora inunda as ruas com seus belos cabelos, e tempestua as cidades para lavar-lhes tudo o que é ruim. Dança nua por entre os céus e faz balançar até as mais altas árvores, em um ritmo que somente ela e mais ninguém consegue acompanhar. Dentro de todo esse alvoroço aquela mão que havia sido estendida é puxada para perto dela e em um segundo inesquecível os dois se juntam e então, ele, o sol consegue brilhar por dentre às escuras nuvens que dominavam os céus. Os dois que nunca se entenderam, naquele segundo de tempo e apenas ali, conseguiram se amar. Além de belo foi extremamente raro, mas não impossível, um ato que ninguém jamais pensou que aconteceria. A chuva caindo forte e lavrando tudo o que nasceu de ruim para dar espaço aos novos e bons crescerem, e o sol dando-lhes o poder da vida, tudo ao mesmo tempo. Nunca poderia sequer imaginar que isso aconteceria até porque por mais belas que as rajadas de água que caiam do céu pudessem ser elas tinham o poder de devastar os lugares em que elas tocavam, e o grande sol, sempre secava até a morte os seres vivos que ele tocava com seus longos dedos luminosos. Resumindo, a natureza em si surpreende até os mais descrentes e faz com que tenhamos esperança que tudo dará sempre certo no final... Pense nisso, tudo dará certo no final...

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