sábado, 26 de junho de 2010

Um Pequeno Demônio Negro

No More Lies
Parte 2

"Tanto tempo depois, finalmente cansei de ser, de tentar ser quem não sou. O tempo me passou como as águas de um córrego e me levou com a correnteza. O vento forte me secou e deixou doente de maneira que não pude mais sentir minhas pernas, o gelo crescia dentro de mim e subia em meu corpo. Sem forças para gritar, sem ninguém para ajudar eu desisti de tentar... Entreguei-me ao relento, as forças dos ventos, ao acaso que iria me levar daqui para algum lugar. Certamente sem idéias, nem pensamentos que pudesse tirar proveito, eu me deixei inundar por aquele sentimento e dali em diante senti confortável, senti como se finalmente tivesse me tornado um só. Era algo berrante e delirante, não me deixava andar nem falar, mas conseguia sentir tudo ao meu redor..."
As nuvens desceram dos céus e vieram saudar seu mais novo filho, a cria das águas calmas.
Não havia mais nada que pudesse interromper o crescimento dele, nada que conseguisse parar o seu destino, pois o vento negro já soprava bem como aquela vez na floresta. O mundo estaria aos seus pés novamente se não fosse por aquele pequeno detalhe que lhe foi escondido lá tempos atrás. Apenas eu vi, apenas eu sei. Vi aquela ponta de luz penetrar-lhe a carne e ouvi claramente o que ela disse, que agora ele tinha o poder da escolha algo que nunca tinha sido dado à ela, ou seja, ele poderia escolher o destino de sua vida. Nada fiz, não movi um músculo sequer, pois aquelas simples palavras me cairam como plumas na mente, e nem os ventos ou a floresta ali na volta discordou.
"Hoje não quero mais, eu não sou esse que você vê, que você viu! Quero que tudo comece de novo, um novo fim, para que eu possa começar um novo inicio! Tudo diferente, tudo novo. Chega dessas meias palavras e falsas verdades, onde as pessoas não são o que realmente são e as palavras ficam somente na boca dos que falam. Cansei de tudo isso. Vou deixar-me dominar por essa força que senti que vem de cima, de um lugar distante no qual eu pertenso, um reino no qual o rei sou eu... Isso vem de lá, onde as pessoas são verdadeiras, onde não existem máscaras e tudo é mais alegre, lá existe vida de verdade. Não vou mais segurar minhas rédeas, o tempo passou e aquela criança chorona ficou para atrás, ainda que meu peito se faça em migalhas, eu irei ser eu mesmo, ser o que nunca fui, ser verdadeiro e falar sem medo. Essas mentiras já me consumiram por tempo demais e as cinzas daquela antiga foqueira não me queimam mais. As cicatrizes que possuo no peito me trazem orgulho e me fazem lembrar do mau que posso causar, dos erros que cometi e da maneira pela qual paguei. Deixarei que esse eu se liberte e deixe de viver somente em meus sonhos, e farei isso agora!"

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