segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Acontece e a gente nem percebe

Redemoinhos da Vida

Os mares, as marés e os oceanos. Ah as águas da vida! No remexer das profundezas desse mar minha mente afunda serenamente e sem medo algum. Deixo com que tudo se encha de água e que todos nós nos afoguemos nessas águas calmas e transparentes. Deveria eu beber um pouco para acelerar o processo e chegar mais rápido ao meu destino, ou deixo com que a correnteza me leve na calmaria do fim de tarde? Meu navio afundou em memórias e somente eu restei na embarcação, como um capitão deve fazer vou sendo levado para o lugar mais profundo nessas montanhas submersas. Vejo toda essa bela obra de minha vida perecer sendo engolida sem pudor pelas águas, mas ao mesmo tempo tudo se torna tão mais belo pela sutileza que reina aqui no oceano. Onde a vida começou, agora termina... Termina? Todos esses quadros de minhas lembranças estão encharcados de água doce e a pureza de cada um fica explícita de tal maneira que nunca tivera visto antes; vejo agora coisas que jamais pensei estarem ali também. Impossível imaginar que tudo isso vai se perder assim tão de repente, tão rápido e sem sentido algum, como num maremoto maluco de emoções. Será que essas obras de arte tornar-se-ão como as dos famosos artistas que o mundo somente conheceu após a morte? Não gostaria disso para mim, prefiro o total anonimato se tiver de ser assim...
Belo é o sol que me banha com seus raios, mesmo na profundidade que estou... Alias, creio que a consciência já perdi, pois não sinto mais meus pulmões encheram-se com a água que me circunda e acolhe como um abraço fraternal. É como se estivesse enfim voltando para casa. O horizonte a minha frente se faz em um azul escuro tão terno, tão sublime... Um azul celeste que clama por vida, que chama como se estivesse esperando por mim há tempos, e calmamente anseia pela minha chegada. Não sei se é a hora. Já me perdi dentro de tudo e esse navio que parece não ter fim faz com que minha mente se confunda facilmente dentre os anos estampados nas paredes. E quando penso em fechar os olhos para acompanhar a música que ecoá no fundo do mar, sinto como se o corpo pulasse de dentro para fora e a vida saísse pelas pontas dos dedos...
Um iceberg enorme fez com que minha embarcação não fosse jogada as profundezas e quando meus olhos abriram-se pude apenas ver que o destino mais uma vez brincara comigo, pois o que na verdade acontecera foi que adormeci no colchão de ar e cai na água, fazendo com que um pouco d'água entrasse em meus pulmões... Coisas da vida...

Nenhum comentário: