Loucuras do Dia-a-dia
Parte 7
O Sol começava abaixar na praça e refletir na água do lago. Logo o vento iria começar a soprar e a temperatura cairia àqueles velhos 18º C costumeiros das noites de Porto Alegre. Naquele abraços minhas mãos acariciaram os cabelos dela que mesmo com o tempo, permaneceram macios como eram quando a conheci e minha mente me fez voltar no tempo, fazendo-me lembrar como esse abraço era importante pra mim há 10 ou 11 anos. Dos meus olhos lágrimas sinceras escorreram, mas as sequei ainda no abraço, para que ela simplesmente não conseguisse perceber. Minhas palavras saíram trêmulas e tão carregadas de emoção, que não pude esconder o que meus olhos revelavam com clareza.
-Por tanto tempo ficamos separados, que nunca imaginei que pudesse ser você a me mandar aquela mensagem. Eu realmen..- antes de terminar a frase notei que os olhos dela também estavam molhados e me surpreendi que até me perdi no que falava.
- Eu to tão feliz de puder te ver de novo, tempos de tanto tempo longe. Tu sempre me vê chorando né? - sua voz era continuava doce como sempre e a emoção do reencontro podia ser sentida a cada sílaba pronunciada - Mas dessa vez parece que não sou só eu que to chorando, - ela sorriu e riu assim como em minhas lembranças - né?
Os olhos cheios d'água não aguentaram e sem que eu percebe-se uma lágrima tivera percorrido meu rosto. E certamente que a vergonha tomou conta de mim, embora não fosse mais um garoto que se entrasse a emoção, naquele momento eu realmente me senti com dezoito anos mais uma vez.
- É que desta vez não tem como eu esconder... Realmente não esperava te ver. Foi uma surpresa tão boa que não consegui me controlar. - ela sorriu mais uma vez para mim, e pude notar que seus olhos emanavam um brilho intenso de felicidade, assim como eram naqueles tempos em que ela tinha apenas 13 anos e nada da vida sabia.
- Que bom que tu gostou. Quando vim pra cá só pensei em te ver, ainda mais quando descobri que tu tava aqui. Finalmente a gente iria poder conversar!
- É.. Digamos que eu não tenha passado muito tempo aqui, mas hoje à noite tenho um compromisso e por isso ainda estou aqui. Pois se dependesse só de mim, acho que não voltaria para cá tão cedo...
-Cedo!? Fazem mais de cinco anos que tu tá nessa de ficar viajando... Parece como se não quisesse vir mais aqui...
- Acho que talvez não queira mesmo. Cada um lugar, cada situação, tudo me lembra alguma coisa que ficou no meu passado, e assim minha mente se atrapalha na nostalgia e melancolia, pois aqueles dias não vão voltar. Nem os dias, nem o que falei ou fiz.
- Ah... Não te culpa por nada... Tu sabe que...
- Não é isso, é só que não quero ter que lembrar de tudo. Quero algo novo, e longe daqui posso conseguir isso...
- É... Eu sei como é...
Continuamos nossa conversa ali mesmo de pé, apenas apoiados no dique do centro do lago, apenas observando o movimento das pessoas na praça. Nós, como se pudéssemos ser o que um dia fomos. Relembramos momentos, demos risadas e passamos o tempo como velhos amigos devem fazer. E com isso o sol foi descendo e descendo, a temperatura começou a diminuir e quando me dei conta nossas mãos estavam entrelaçadas e o sol brilhava laranja no horizonte. Foi então que aquela frase cortou os céus e dissipou as nuvens avermelhadas.
- Nós tivemos nosso tempo, não é mesmo? - ela ficou a olhar o horizonte por alguns segundos, embora soubesse que aquilo me pegou desprevenido, ao que ela tornou a olhar para mim.
- É, tivemos. E foi muito bom...
- É... Foi mesmo. Pena que...
- Pena que você não percebeu isso naquela época né? - e mesmo sem eu ter a intenção, senti que minhas palavras pareceram lâminas. Mas ao mesmo tempo apertei a mão dela e continuei - Como eu queria que tu tivesse visto isso naquele dia, era tudo o que queira...
Ela retribuiu a intensidade na qual segurei a mão dela e sem palavras apenas deitou a cabeça sobre o meu ombro, deixando nossos corpos ainda mais próximos. Senti como se ela fosse um bebê desprotegido que procurava por calor e proteção, e em um flash de sentimentos deixei-me abraça-la como um dia fizera. O crepúsculo tivera chego e mais uma vez éramos somente nós dois no cair da noite na selva de concreto.
- Vem, vamos. Acho melhor irmos, daqui a pouco vai esfriar mais e não quero te deixar doente. - Ela soltou minha mão e me surpreendeu com um abraço forte. Pude sentir o calor do peito dela se transferindo para o meu, pude sentir suas mãos agarrando-se a minha camisa e seu rosto mergulhando no meu peito. Pude sentir todo o sentimento que aquele nobre abraço transmitia e ouvi as palavras que jamais irei esquecer...
- Como eu queria que tivéssemos ficado juntos! Mas eu era boba demais, nova demais para ver que tu era tudo o que eu queria... Como eu queria voltar no tempo e falar o que não falei daquela vez. Como queria que tu nunca tivesse ido... - palavras de dor, palavras cheias de emoção que tocaram meu coração e instantaneamente fizeram com que eu a abraçasse forte, num misto de dor e amor que eu sabia que nem eu nem ela iríamos esquecer. Ficamos assim por alguns minutos, até que o coração dela se acalmasse e segurando minhas emoções com toda a força que ainda me restava, falei:
- Eu também queria... E como queria... Mas agora vamos... Vem eu te levo pra casa...
Saí da praça abraçado à ela e a levei para o carro. Algo me dizia que aquele momento jamais sairia de minha mente, e que mais uma vez eu não tivera falado o que realmente gostaria. Mas fechei uma cicatriz que há tempos estava aberta no coração dela e isso me fazia feliz, mesmo que as palavras gostaria de ter dito fossem um sincero "Ainda amo você". Eu neguei o meu próprio querer em virtude de um destino que ainda desconhecia...
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