sábado, 30 de abril de 2011

Mar de Ilusões

Viajar pela Bretanha não é mais a mesma coisa que um dia foi. Hoje as estradas já não levam mais a Camelot, e as terras do norte não escondem mais tantos segredos. Todos que um dia conheci e a cavalguei ao lado já se foram, só restou a mim. Esse mundo inteiro de solidão se resume a luz que vem de Glastonbury, onde ainda posso sentir que o Rei descansa, embora esteja muito longe dali. Daqueles tempos de glória lembro-me das ocasiões em que apenas ficávamos a ouvir o suave som da harpa. A voz aveludada da dama de Avalon ecoava pelos salões e suas canções faziam com que nos sentíssemos mais leves. Noites em que a cerveja e a carne eram distribuídas para todos os cavaleiros da corte, tardes em que os jogos divertiam a população e por fim, a madrugada nos presenteava com um espetáculo de estrelas que brilhavam na serenidade do céu.
Se fechar os olhos ainda consigo me recordar das corridas pelos campos, das batalhas simuladas, das investidas contra os saxões, das lendas dos dragões e da velha barca que levava àquela ilha... Os tempos não voltam mais, e é assim que os deuses lidam com o destino de nós, meros mortais. Desse mundo antigo, o único lugar no qual sei que continua há existir e que sempre me receberá, é justamente onde não quero ir... Lá vou encontrar tudo o que um dia decidi deixar para trás, lá vou ter minha contradição exposta e não sei se poderei mais sair. Se um dia voltar para aquela ilha, tenho a certeza que estarei indo de volta para casa, para meu marco zero e de onde nunca mais sairei. Será lá o meu fim. Fim que vira recomeço, e as sacerdotisas sabem disso, tanto que acolheram outros jovens perdidos pelo mundo e os druidas renasceram das cinzas das fênix. Afinal, o espírito nunca morrerá, não os do povo antigo.
Enfim continuarei a cavalgar pela minha Bretanha em busca de um lugar no qual possa chamar de casa, onde posso viver em paz e quem sabe eles - meus bons e velhos amigos - também possam vir me visitar. Pois um dia eu com certeza irei vê-los todos lá onde vivem hoje. Embora que quando eu vá, nunca mais possa voltar, pois finalmente Avalon me terá...

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