As Garras do Leão
O leão avança sobre a presa sorrateiramente e a vai matando apenas com o olhar. Seus olhos sedentos por aquela carne nua estão preenchidos com a luxúria que impera no ar, e a verdade é que a presa sabe da presença de seu predador. Com o corpo todo curvado, pronto para atacar o animal se controla e não pula para matar, pois ele precisa de mais, mais dessa sensação que o invade e domina, que o faz sentir como se o mundo todo esperasse por sua vitória. Ele sabe que depois de conquistar, irá sempre querer mais e mais, como uma droga que vicia já no primeiro uso. E isso corre pelas veias e irriga o corpo todo que treme de nervoso com a ansiedade da situação, pois a poucos metros está sua linda presa e sua carne nua e crua banhada pelas luzes da noite. O vento acaricia sua juba e o faz delirar numa mistura de sensações que fazem seu corpo arder de calor, e no momento em que o instinto o toma e ele vai pular sobre sua vitima, sem nenhum pesar uma mão o segura pelo pescoço. Seu corpo pára no ar e a presa o avista! Ainda que soubesse e esperasse por ele, ao vê-lo ela foge correndo olhando para trás com a impressão de que nunca mais irá voltar para as garras daquele predador.
Nisso o leão se enfurece, e seus olhos se enchem com um fogo que ilumina a noite, a linda juba que portava se transforma em chama pura que trêmula agressivamente. Ele se debate para tentar se soltar, para atacar quem o impediu de avançar, que o impediu de conquistar sua bela presa e a saciar um pouco da fome que o corrompe. Mas suas tentativas são todas em vão, a mão não o solta de maneira nenhuma e suas garras não conseguem alcançar quem o segura em pleno ar. Os rugidos enfurecidos afugentam os demais animais que ali por perto estavam, fazendo com que ele fique sozinho na noite com aquele ser que domina. Após esse ataque de raiva do leão, ele se acalma e pára de tentar se livrar do que o prende, porque já entendeu que não adianta o quanto ele se esforce, simplesmente não vai conseguir se libertar. E no momento em que pára e se acalma, quando sua juba volta para sua forma original e seus olhos não mais cospem fogo, o que o segurava o solta e ele volta ao chão. Mais que prontamente se vira para seu inimigo e prepara o salto de ataque, mas é ai então que ele reconhece quem o segurava. Sua expressão de espanto logo passa à de chateação, como se já soubesse por que esse alguém o parou no momento crucial de sua caçada. Eis que o ser se revela e mostra seu rosto, ele é apenas um homem não muito alto, nem muito baixo, não parecia ser tão forte ao ponto de conseguir segurar um leão com uma só mão, mais também não era esquio demais. Seus cabelos castanhos balançavam ao sabor do vento e seus olhos fixos nos do leão passavam uma confiança e superioridade absurda, até talvez tenha sido isso que fez o leão parar antes de atacá-lo. Eles pareciam conversar pelo olhar, mesmo que não falassem uma palavra sequer, e foi então que o homem falou, “Não vou deixar que você o domine, mesmo que seja um rei e que ninguém se oponha à você, eu irei. Pois se deixar somente você cuidando dele, sabes se lá o que poderá acontecer!”, o leão balançou sua juba como se discordasse do que ele falara e num rugido respondeu ao homem que falou “Sim eu sei que sem você, nem eu nem ele podemos estar aqui, mas ainda assim você sabe que possui seus limites e que esses instintos que tens influem no andar da carruagem lá fora.”. Sem muito interesse o animal apenas deu um rugido baixo como se concordasse com o que o homem dissera e assim ambos saíram caminhando pela mata como velhos amigos.
Não se sabe o que o leão respondeu ou o qual é a relação que ambos possuem, e de quem eles estavam falando, mas aqui nesse universo onde vivo à observar tudo, sei que há coisas que se interligam com outras lá fora em um lugar distante que nunca vi, só ouvi falar. Como cheguei não sei, mas quem sabe talvez um dia eu possa descobrir tudo isso que vejo aqui, o sentido das coisas e como elas acontecem. Até lá continuarei a observar esse rapaz de olhos vermelhos e cabelos castanhos que anda com o leão, pois algo nesses dois me é familiar e chama atenção. Melhor ir, pois não posso perdê-los de vista...
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